Cirurgia de Sistrunk: como tratar Cisto Tireoglosso?

O que é e como se forma o cisto tireoglosso? Quais os passos da Cirurgia de Sistrunk? Há risco de recidiva da doença após a cirurgia?

Hoje temos um caso para Cirurgia de Sistrunk!



Nosso paciente chega e diz: “tem um caroço aqui no meu pescoco, Dr“. Você examina e percebe um nódulo fibroelástico, móvel, indolor na linha média na topografia do osso hioide. Estamos diante de um paciente com cisto tireoglosso. Mas o que é isso? Como tratar?

O que é o Ducto Tireoglosso?

Por volta do 17° dia de desenvolvimento humano, forma-se um pequeno divertículo composto por endoderme e mesoderme na base da língua. Essa estrutura se diferencia em tecido tiroidiano: a tireoide lingual. A base desse divertículo vai no futuro formar o que conhecemos como forame cego.

O primórdio tiroidiano então migra anterior e caudalmente até sua topografia de destino, anterior à traqueia. Isso na maioria de nós, quando não há anomalias.

O trajeto por onde passa a tireoide geralmente é reabsorvido/substituído por tecido fibroso. Em algumas pessoas, entretanto, ele fica patente na forma de um canal que chamamos de ducto tireoglosso.

Durante o caminho, a glândula passa bem rente ao periósteo do osso hioide. Este por sua vez sofre uma rotação que arrasta consigo o ducto tireoglosso. A partir disso, podemos encontrar três posições diferentes que o ducto se encontra em relação ao hioide: pre-hioide, trans-hioide e retro-hioide.

O que é o Cisto Tireoglosso?

O acúmulo de conteúdo em alguma parte do ducto forma o Cisto Tireoglosso. Em alguns pacientes, esse cisto se infecta, provocando uma fístula adquirida. Importante! Não é descrita fístula de cisto tireoglosso primária, todas são adquiridas, geralmente após quadro inflamatório local.

Cirurgia de Sistrunk, Artigo Original de 1920
Cirurgia de Sistrunk, Artigo Original de 1920

Quais os passos da Cirurgia de Sistrunk?

Nosso paciente está posicionado em decúbito dorsal horizontal, sobre anestesia geral, na ausência de quadro inflamatório.

Primeiro começamos com uma incisão cervical transversa no ponto médio entre a borda superior da cartilagem tireoide e o osso hioide. Se houver uma fístula adquirida, retiramos com uma incisão em cunha.

Dissecamos as estruturas por planos, identificamos o cisto e o contornamos, buscando manter uma margem de alguns milímetros. Importante! Sempre com muito cuidado para não romper o cisto (aumenta o risco de recidiva).

O cisto geralmente está aderido à parte inferior do osso hioide. O próximo passo é liberar as inserções musculares superiores e inferiores da porção central do corpo osso. O corpo do osso hioide é ressecado em bloco com o cisto. Importante! Não descolar muito lateralmente o osso, pois aumenta o risco de lesão do IV par craniano, N. glossofaríngeo.

O ducto tireoglosso raramente é visível. A dissecção envolve o seu trajeto teórico por meio da remoção de um cone muscular em direção ao forame cego. Na Manobra de Sistrunk, o dedo indicador do cirurgião é posicionado no forame cego, dentro da cavidade oral, de forma a guiar a dissecção. Importante! Sempre fazer uma ligadura próximo ao forame cego antes de seccionar.

Após a ressecção, as estruturas anatômicas são fechadas por planos. Se julgar necessário, pode ser instalado um dreno.

Pode recidivar?

Na literatura, cerca de 1,5 a 10% dos pacientes operados evoluem com recidiva da doença. Isso ocorre principalmente pelos seguintes motivos: cirurgia realizada em fase inflamatória; rotura do cisto durante a dissecção, múltiplos ductos tireoglossos; erros técnicos; ressecção insuficiente ou fragmentação do ducto.

Quando outro procedimento é realizado, os índices de recidiva são ainda maiores. Se o osso hioide não for ressecado (Técnica de Schlange), 30% dos casos recidivam. Se optarmos por somente retirar o cisto, temos até 100% de recidiva!


Nosso paciente vem sendo acompanhado no ambulatório e até o momento apresenta boa evolução, sem sinais de recidiva da doença!

Saiba mais!

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João Elias

João Elias

Médico pela Universidade Federal de Goiás. Cirurgião pelo Hospital Alberto Rassi. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer Araújo Jorge. Ilustrador Médico com foco em Anatomia e Cirurgia. Fundador e mantenedor do Café Cirúrgico.

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