Hoje vamos conversar sobre Briefing e Debriefing, duas ações simples e poderosas usadas na aviação para minimizar erros e agilizar condutas.
Por maior que seja sua expertise, nenhum cirurgião opera sozinho. O auxiliar, a instrumentadora, a circulante, as enfermeiras, os residentes, o interno… Todos estão lá fazendo o dia acontecer. O sucesso da cirurgia é diretamente influenciado por uma equipe que trabalha de forma organizada e coordenada. Como trazer esses conceitos para dentro da sala de cirurgia?
Antes de entrar na aeronave, a tripulação revisa em voz alta os momentos ou passos chave a serem realizados durante o vôo. Desde a preparação, os detalhes do plano de vôo, a inspeção externa e interna da aeronave, os principais checklists etc. São revisadas ações decisivas que devem ser ministradas de imediato em caso de pane. Esse é o Briefing da aviação.
No fim do voo, a equipe realiza uma avaliação imparcial e crítica do seu desempenho, bem como as futuras ações a serem tomadas para evitar a repetição dos erros cometidos. Esse é o Debriefing da aviação.
Um vôo é uma boa metáfora para uma cirurgia. O paciente adentra uma sala, é submetido a uma anestesia (decolagem), passa por um procedimento (percorre uma distância) e acorda ou é extubado (aterrissagem/pouso). Consequentemente há momentos decisivos nessas etapas que exigem da equipe cirúrgica ações específicas que definem a segurança do paciente e o sucesso da cirurgia, ou seja, o prognóstico do paciente.
Mas… Como o briefing e o debriefing podem ser aplicados na minha prática cirúrgica?
Briefing no Centro Cirúrgico, uma equipe afinada
Faça uma reunião breve com todos os membros da equipe para garantir um entendimento compartilhado de suas funções quando em campo ou fora de campo. Inclua nessa reunião o Checklist de Cirurgia Segura, bem como outros tópicos que julgar necessário.
- Transmita clareza do rumo em que se seguirá o ato cirúrgico. Esclareça qualquer mal-entendido do plano ou abordagem;
- Facilite uma melhor coordenação entre os membros da equipe;
- Reduza o risco problemas e falhas na comunicação;
- Desenvolva planos de contingência em caso de eventos inesperados;
- Crie uma cultura de comunicação aberta, mostrando que este momento visa o bem estar do nosso paciente;
- Faça com que todos se sintam parte de uma equipe, um verdadeiro time que quer marcar um gol.
Geralmente, o cirurgião é o membro da equipe que mais conhece o paciente e sua morbidade. Por esse motivo, é tido como líder da equipe e, por isso, deve conduzir o Briefing.
Debriefing no Centro Cirúrgico, em busca de melhorias
Ao final da cirurgia, assim que retirar as luvas, reserve um tempinho para fazer o Debriefing. Repasse os pontos positivos e negativos da cirurgia e do trabalho em equipe.
- Elogie os pontos positivos e agradeça a coordenação quando bem realizada;
- Ressalte de forma clara os pontos negativos, sempre de forma construtiva, visando melhorias para o próximo paciente;
- Relate questões de equipamento, pessoal e tecnologia para que as mudanças necessárias sejam efetivadas;
- Não podemos nos esquecer de perceber e compartilhar nossas próprias falhas durante o ato operatório;
- Novamente, faça com que todos se sintam parte de uma equipe!
É importante um diálogo construtivo, que levante questões de maneira não ameaçadora e sem confronto. Lembre-se de que todos somos humanos e sujeitos a falhas.
Gostou? Pratique o Briefing e o Debriefing no seu dia-a-dia de Centro Cirúrgico!
Seja líder (não chefe) da sua equipe para que todos trabalhem bem, em segurança e gerando bons resultados para o seu paciente. Lembre-se de que todos fazem parte de um time que sempre pode ficar melhor.
Veja também
- Royal Australian College of Surgeons. Briefing and debriefing. 2016.
- Outros textos para Desenvolvimento Pessoal.