Tabagismo: 7 formas de como o cigarro pode prejudicar a sua cirurgia

Complicações pós-operatórias associadas ao tabagismo: cardíacas, pulmonares, de ferida operatória, infecciosas, neurológicas, tromboembólicas e renais.

Cigarro de palha, palheiro, de papel, cigarro eletrônico, narguile. São várias as formas de consumo da nicotina e dos seus coadjuvantes, fazendo com que o tabagismo seja considerado hoje a principal causa de mortalidade prevenível do mundo. Metade das pessoas que fumam vão falecer devido a problemas de saúde associados ao ato de fumar. 



Seus efeitos no organismo aumentam o risco de complicações cirúrgicas, tais como infarto, insuficiência respiratória, tromboembolismo, infecções de ferida operatória, dentre outras. Ou seja, esses pacientes possuem maior risco de mortalidade intra-hospitalar! Por esse motivo, resolvi elencar tais agravos com objetivo de informar, alertar e talvez contribuir um pouco para o aumento da sobrevida da nossa sociedade. 

Tabagismo: 7 formas de como o cigarro pode prejudicar a sua cirurgia

1. Complicações Cardíacas

O tabagismo é um fator de risco para desenvolvimento da doença aterosclerótica coronariana, ou seja, prejudica o suprimento sanguíneo do coração. Soma-se ainda o fato de que o fumante possui o que chamamos de inflamação crônica e consequentemente um estado de hipercoagulabilidade, propiciando a formação de trombos.

Resultado: nos primeiros 30 dias de pós-operatório, fumantes têm um risco 57% maior de sofrer parada cardíaca e 80% maior de sofrer infarto agudo do miocárdio.

2. Complicações Pulmonares

O tabagismo lentifica o transporte de muco e ainda aumenta a sua produção devido a hiperplasia de células caliciformes. Além disso, atrapalha a função de limpeza do macrófago e aumenta a reatividade brônquica (inflamação crônica). Isso explica porque o tabagismo é a principal causa da conhecida Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Resultado: fumantes possuem maior risco de intubação em cirurgias que isso não seria necessário, maior risco de dificuldades para extubação, maior risco de pneumonia etc. Sem contar o risco de embolia pulmonar detalhado no item 4.

3. Complicações Neurológicas

O mesmo status inflamatório crônico e estado de hipercoagulabilidade, relatados acima, afeta os vasos sanguíneos cerebrais. Diante disso, um desses vasos, que já está com placas de gordura, devido a doença aterosclerótica, produz um trombo e prejudica a irrigação cerebral.

Resultado: fumantes possuem risco 70% maior de sofrerem infarto cerebral ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) nos primeiros 30 dias de pós-operatório.

4. Complicações Tromboembólicas

O paciente cirúrgico de forma geral já possui risco para eventos tromboembólicos. Quando associado à inflamação crônica e à hipercoagulabilidade do tabagismo o risco se multiplica.

Resultado: fumantes têm maior risco de desenvolver trombose venosa profunda e embolia pulmonar.

5. Complicações de Ferida Operatória

Alguns constituintes do cigarro, como a nicotina e o monóxido de carbono promovem vasoconstrição periférica e comprometem a função imunológica local, contribuindo para doença arterial periférica. Tudo isso reduz a oxigenação que seria essencial para uma cicatrização eficiente.

Resultado: fumantes possuem maior risco de complicações associadas à ferida operatória: deiscências, distúrbios cicatriciais e infecções.

6. Complicações Infecciosas

Além das infecções de ferida operatória, pacientes tabagistas possuem maior risco de desenvolver outras infecções, como infecção do trato urinário, pneumonia. Não bastasse isso, essas infecções parecem ser mais graves e mais difíceis de tratar que nós pacientes não tabagistas.

Resultado: fumantes têm maior risco de evoluírem com infecções por germes resistentes e com formas graves, como sepse e choque séptico.

7. Complicações Renais

Alguna dos constituintes da fumaça do tabaco, como os metais pesados cádmio e chumbo, são nefrotóxicos. Ao passar pelo estresse cirúrgico, tais pacientes possuem maior risco de complicações renais. Aqueles que sabidamente já possuem doença renal prévia possuem maior risco de piora.

Resultado: tabagistas possuem maior risco de desenvolverem insuficiência renal aguda no pós-operatório.


Concluímos que a cirurgia e o peri-operatório do paciente fumante têm maior risco de complicações. Para minimizar isso, orientamos a interrupção do tabagismo de 4 a 8 semanas antes da cirurgia. Sabe-se também que o pré-operatório é um momento oportuno para promover saúde e investir na interrupção definitiva do ato de fumar!


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João Elias

João Elias

Médico pela Universidade Federal de Goiás. Cirurgião pelo Hospital Alberto Rassi. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer Araújo Jorge. Ilustrador Médico com foco em Anatomia e Cirurgia. Fundador e mantenedor do Café Cirúrgico.

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