10 Complicações da Tireoidectomia: O que pode dar errado na Cirurgia de Tireóide?

Quais são os principais riscos da Cirurgia de Tireoide? Quais as principais complicações da tireoidectomia total ou parcial?

A tireoidectomia é um procedimento relativamente simples na maioria dos casos. Mesmo assim, é preciso individualizar cada paciente. As complicações da tireoidectomia acontecem principalmente naquelas glândulas maiores e/ou inflamadas, no câncer avançado e nos pacientes com múltiplas morbidades.



Um bom profissional possui habilidade para minimizar as complicações da tireoidectomia e cuidar para uma cirurgia bem suscedida. Somando-se um pós-operatório bem orientado e cuidadoso por todos os envolvidos, a chance de sucesso é ainda maior. Confira também o nosso artigo: O que fazer depois da Cirurgia de Tireoide? Pós-Operatório de Tireoidectomia.

10 Complicações da Tireoidectomia: O que pode dar errado na Cirurgia de Tireóide?

O temido hematoma cervical

O sangramento com formação de hematoma cervical no pós-operatório configura uma complicação cirúrgica potencialmente fatal. Não por perda sanguínea, mas por dificuldade respiratória decorrente da compressão da traqueia pelo hematoma.

Algumas condições clínicas podem levar a um maior risco de sangramento no intra e no pós-operatório: tireoidites e outras doenças inflamatórias da tireoide; doença renal crônica; hemofilias; Doença de Graves; uso de anticoagulantes, dentre outras.

Para resolver o problema, o cirurgião deve reabordar o paciente, com abertura da ferida operatória, drenagem do hematoma e identificação do vaso sangrante. Em alguns casos, para garantir a ventilação e a troca gasosa, faz-se necessário a traqueostomia.

As lesões nervosas e a rouquidão

Nas proximidades da tireoide, em ambos os lados, encontram-se nervos importantes para o aparelho fonador: o Nervo Laríngeo Recorrente e o Nervo Laríngeo Superior. Durante a cirurgia, a depender do tamanho da tireoide, da inflamação, da anatomia do paciente ou mesmo do acometimento tumoral dos nervos, pode ocorrer lesão parcial ou total dessas estruturas. 

A lesão parcial (neuropraxia) na maioria das vezes provoca rouquidão temporária. A lesão total (neurotmese) tende a deixar uma rouquidão definitiva. Em raros casos mais graves, pode ocorrer Lesão Bilateral dos Nervos Laríngeos Recorrentes, cursando com insuficiência respiratória e necessidade de traqueostomia. Isso ocorre porque esse tipo de lesão pode impedir a abertura das pregas vocais, impedindo a ventilação.

Para contornar isso, ressalta-se a importância da técnica cirúrgica na identificação e preservação dos nervos laríngeos. Atualmente, o cirurgião pode contar com métodos de monitorização neurofisiológica intra-operatória, uma ferramenta a mais para reduzir o risco de lesões.

Hipoparatireoidismo e hipocalcemia (cálcio baixo)

Atrás da tireoide, temos quatro glândulas denominadas paratireoides. Elas liberam paratormônio (PTH), um hormônio que ajuda no equilíbrio do cálcio no corpo humano. O PTH aumenta o Cálcio sérico estimulando a liberação óssea, a reabsorção renal e a absorção intestinal desse íon. 

A depender de diversos fatores anatômicos, patológicos e técnicos, as glândulas paratireoides podem ser lesionadas. Isso pode significar hipocalemia (cálcio sérico baixo) temporária ou definitiva. Os sintomas são: formigamento nos membros, dormência, dormência ao redor dos lábios, câimbras musculares, dificuldade para deglutir etc. Na maioria dos casos, a hipocalemia decorre da manipulação cirúrgica local e as glândulas paratireoides voltam a funcionar rapidamente.

Para minimizar os possíveis sintomas, muitos pacientes (especialmente nas tireoidectomias totais) recebem reposição de cálcio nas primeiras semanas de pós-operatório.

Disfagia ou dificuldade para deglutir

É normal o paciente ter certa limitação da movimentação da laringe, principalmente na primeira semana da cirurgia de tireoide. Como a deglutição e a fonação dependem muito desses movimentos, pode ocorrer desconforto para deglutir e para dialogar.

Ao manipular a região cervical para retirar a glândula tireoide, há manipulação de várias estruturas anatômicas (tecido subcutâneo, platisma, músculos, vasos, nervos etc). No final da cirurgia, essas estruturas devem ser reaproximadas para garantir uma boa cicatrização. Nos primeiros dias, os tecidos envolvidos ainda estão inflamados, dando início às diversas fases da cicatrização.

Trata-se de uma complicação da tireoidectomia temporária que melhora naturalmente em algumas semanas.

Seromas ou vazamento de linfa

A reação do corpo à manipulação cirúrgica do tecido subcutâneo gera o acúmulo de líquido que configura uma complicação de tireoidectomia bem comum: o seroma. Trata-se de uma coleção líquida que provoca aumento do volume do pescoço, próximo à ferida operatória.

As chances de infecção do líquido são baixas e na maioria das vezes o próprio organismo se encarrega de reabosorver essa coleção. Entretanto, se for muito volumosa de forma a prejudicar a respiração, pode ser necessária a punção com drenagem do seroma.

Em tireoides maiores e mais complicadas, pode haver maior proximidade entre a glândula e o ducto torácico, estrutura que reúne a drenagem de linfa do corpo. A lesão dessa estrutura pode levar ao vazamento de linfa. Uma complicação muito rara, mas já relatada.

Complicações da ferida operatória

Como qualquer outra cirurgia, a ferida operatória também está incluída nas complicações da tireoidectomia: infecção ou distúrbios da cicatrização, como retrações, hipertrofia, queloides etc. Vários cuidados pós-operatórios são tomados para prevenir tais complicações. Dentre eles, evitar exposição ao sol nas primeiras semanas de cirurgia.

Tempestade tireotóxica

Uma das contraindicações da cirurgia de tireoide é o hipertireoidismo não controlado. Nesses casos, a manipulação da glândula pode provocar a liberação exagerada dos hormônios tireoidianos. Isso resulta em taquicardia, hipertermia, arritmias cardíacas, náuseas, confusão mental, dentre outros sintomas. Trata-se de uma complicação aguda grave que precisa de tratamento imediato com medicações anti-tireoidianas.

Hipotireoidismo

Nessa cirurgia estamos retirando a glândula tireoide inteira ou parte dela. Isso significa que o organismo vai ter dificuldade para produzir os hormônios tireoideanos, importantes para o metabolismo do corpo humano. Para contornar esse problema, o paciente recebe reposição hormonal com levotiroxina. A complicação surge com uso irregular ou insuficiente da medicação, levando ao que chamamos de hipotireoidismo!

Síndrome de Horner

Alguns estágios mais avançados de Câncer de Tireoide podem necessitar da retirada dos linfonodos cervicais para reduzir as chances de recidiva tumoral. Chamamos isso de esvaziamento cervical.

Os linfonodos cervicais estão próximos à diversos nervos, inclusive de nervos do plexo simpático que ascendem para a cabeça. A lesão dessas fibras nervosas simpáticas podem levar à rara Síndrome de Horner que possui como achados miose (pupilas contraídas), ptose (queda da pálpebra superior) e anidrose (ausência de suor).

Lesões da traquéia ou do esôfago

Nas tireoidectomias mais difíceis e naquelas que necessitam de esvaziamento cervical, há relatos de maior risco de lesão de estruturas nobres, como o esôfago e a traquéia. Embora isso raramente ocorra, casos assim podem evoluir com a formação de um abscesso cervical, condição infecciosa progressiva e potencialmente fatal. Por esse motivo, em caso de suspeita, pode ser necessária uma reabordagem cirúrgica de imediato.


Essas foram as principais complicações da tireoidectomia. São eventos que ocorrem na minoria dos casos, especialmente em procedimentos realizados por mãos competentes. Mesmo assim, nenhum procedimento cirúrgico é isento de riscos. Se você for um paciente, espero que esse texto tenha esclarecido algumas dúvidas sobre o procedimento que você irá realizar. Se você for profissional da saúde, espero que esse texto te ajude a orientar e a esclarecer as dúvidas dos seus pacientes.

Uma boa cirurgia a todos!


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João Elias

João Elias

Médico pela Universidade Federal de Goiás. Cirurgião pelo Hospital Alberto Rassi. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer Araújo Jorge. Ilustrador Médico com foco em Anatomia e Cirurgia. Fundador e mantenedor do Café Cirúrgico.

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