Hoje vamos estudar sobre a Classificação de Strasberg para Lesão Iatrogênica das Vias Biliares.
Dona Maria é uma costureira de 53 anos. Há cinco dias, realizou uma colecistectomia convencional no município de origem, a princípio sem intercorrências imediatas, recebendo alta no 1° DPO. Ontem, no terceiro dia de pós-operatório, apresentou dor abdominal difusa de forte intensidade, febre, náuseas, vômitos, sendo admitida neste hospital ontem de noite, com hipótese de abdome agudo.
No leito vizinho está internada a Dona Tereza, aposentada de 67 anos. Ela acompanha a conversa e diz que fez uma colecistectomia videolaparoscópica em outra cidade há cerca de um mês. Há 15 dias, vem apresentando dor epigástrica com irradiação para dorso, inapetência, vômitos e síndrome colestática progressiva.
De forma quase que combinada, essas duas pacientes e suas respectivas acompanhantes perguntam: “o que deu errado com a cirurgia, doutor”?
Acima, vimos o caso de duas mulheres submetidas a colecistectomia complicada com lesão de via biliar.
Qualquer procedimento médico, cirúrgico ou não, pode evoluir com alguma complicação. Na colecistectomia, a Lesão Iatrogênica das Vias Biliares é uma das complicações mais temidas.
Classificação de Strasberg para Lesão Iatrogênica das Vias Biliares
Para elencar e organizar as possíveis lesões de vias biliares, usamos a Classificação de Strasberg:
- A – Lesão de ducto cístico (ex. soltura dos clipes) ou de ductos biliares acessórios de Luschka.
- B – Oclusão de ramo da árvore biliar, geralmente de ducto biliar direito aberrante.
- C – Transecção, sem ligadura do ducto biliar direito aberrante.
- D – Lesão lateral parcial da via biliar principal.
- E – Lesão completa da via biliar principal. Este tipo é divididos em subtipos de acordo com a altura da injúria, englobado pela Classificação de Bismuth:
- E1 – Lesão distando mais de 2 cm da confluência dos ductos hepáticos.
- E2 – Lesão a menos de 2 cm da confluência dos hepáticos.
- E3 – Lesão na confluência dos hepáticos, mas com preservação desta estrutura.
- E4 – Destruição da confluência dos ductos hepáticos.
- E5 – Lesão da via biliar principal + Lesão de ducto biliar direito aberrante (tipo E + tipo C)
Essas lesões podem ser separadas em dois grupos. No primeiro – composto pelos tipos A, C, D e E5 – observa-se o ‘vazamento’ de bile, cursando com peritonite e com uma clínica geralmente mais exuberante e precoce (2° ao 10° DPO). Foi isso que ocorreu no caso da Dona Maria.
Já no segundo grupo – tipos B, E1, E2, E3 e E4 –, temos a obstrução da via biliar gerando um quadro relativamente mais insidioso, com síndrome colestática progressiva. Assim como aconteceu com a Dona Tereza.
Veja também:
Esse texto foi baseado nas seguintes referências:
- Afdhal NH, Vollmer CM. Complications of laparoscopic cholecystectomy. UpToDate. Published 2021. Accessed December 19, 2021.