Colecistectomia por Vídeo: Quais os tempos dessa cirurgia?

Dona Antônia já está na sala de cirurgia! Confira nesse texto a descrição cirúrgica detalhada de uma Colecistectomia por Vídeo.

Veja a seguir uma descrição dos passos da colecistectomia por vídeo, ou videolaparoscópica!



Dona Antônia, de 47 anos, está entrando na sala de cirurgia. Há dois anos, queixa de dor em cólica no hipocôndrio direito desencadeada pela alimentação, especialmente após alimentos gordurosos. Quase toda semana essa senhora procurava atendimento em PS para controle álgico. Feita ultrassonografia de abdome que constatou colecistolitíase, sendo indicada a Colecistectomia por Vídeo, pela qual Dona Antônia aguardou por longos sete meses.

Após a anestesia, entramos em ação! Segue abaixo a descrição cirúrgica de uma colecistectomia videolaparoscópica. (Ellison and Zollinger)

Colecistectomia por Vídeo: Quais os tempos dessa cirurgia?

Preparo, posicionamento e acesso da cavidade peritoneal

  1. Paciente posicionada em decúbito dorsal;
  2. Realizada antissepsia, assepsia, instalados campos estéreis; e preparados materiais videolaparoscópicos;
  3. Incisão infra-umbilical longitudinal de 1,5 cm, seguida de dissecção de tecido subcutâneo até aponeurose;
  4. Acesso à cavidade peritoneal sob Técnica de Hasson: Reparada aponeurose em dois pontos; incisão longitudinal mediana na aponeurose; evidenciado peritônio, sendo este também incisado;
  5. Inserido o primeiro trocarte de 10mm, sem necessidade de prego;
  6. Iniciado pneumoperitônio com fluxo de 1,5 L/min, com posteriores ajustes; Sob supervisão da Anestesiologia!
  7. Inserida ótica de 30° e inspecionada cavidade; Não visualizadas aderências significativas ou lesões iatrogênicas!
  8. Paciente posicionada em proclive e declive lateral esquerdo para melhor exposição do campo cirúrgico;
  9. Posicionados demais trocartes sob visão:
    • Segundo trocarte (10 mm) a 3cm abaixo do apêndice xifoide;
    • Terceiro trocarte (5 mm) no hipocôndrio direito próximo à linha hemiclavicular;
    • Quarto trocarte (5 mm) no flanco direito (altura da cicatriz umbilical).

Dissecção e identificação das estruturas

  1. Preensão do fundo da vesícula com pinça auxiliar e exposição do campo cirúrgico;
  2. Dissecção criteriosa da camada serosa do infundíbulo e do Trígono de Calot com auxílio de Hook/gancho, gaze montada e pinça da mão esquerda;
  3. Identificadas estruturas da Visão Crítica da Segurança de Strasberg!

Investigação/exclusão de coledocolitíase

  1. Realizado corte parcial do ducto cístico;
  2. Inserida sonda Nelaton de 6 mm no ducto cístico em direção à via biliar comum, sem resistência. Fixada sonda com clipe de titânio LT300; observada drenagem de bile clara;
  3. Retirados segundo e terceiro trocartes; desfeito pneumoperitônio;
  4. Realizada colangiografia intra-operatória: Ausência de falhas de enchimento no ducto cístico ou na via biliar comum; esvaziamento satisfatório da via biliar com contraste atingindo duodeno;
  5. Paciente reposicionada; reestabelecido pneumoperitônio, reinseridos 2° e 3° trocartes; retirado clipe; retirada sonda nelaton;

Retirada de vesícula e fechamento de parede abdominal

  1. Inseridos três clipes de titânio LT300 no ducto cístico dois proximais à via biliar e um distal; Inseridos três clipes de titânio LT300 na artéria cística, novamente dois proximais e um distal;
  2. Com auxílio da tesoura videoparasoscópica, seccionados ducto cístico e artéria cística;
  3. Descolada vesícula biliar do leito hepático, com auxílio do hook/gancho; Não observados ductos acessórios de Luschka!
  4. Realizada limpeza da cavidade e de leito hepático por meio de irrigação com Soro Fisiológico e sucção; Não observados sangramentos ativos ou drenagem de bile!
  5. Conferidas gazes e clipes;
  6. Retirada vesícula biliar da cavidade peritoneal pelo portal epigástrico;
  7. Peça cirúrgica enviada para estudo anatomopatológico;
  8. Esvaziado pneumoperitônio;
  9. Sutura da aponeurose infra-umbilical com fio PDS 2-0;
  10. Sutura das incisões cutâneas com ponto intradérmico usando Monocryl 4-0 incolor;
  11. Curativo.

Colecistectomia por Vídeo encerrada com sucesso! Após observação na Sala de Recuperação Pós Anestésica, Dona Antônia foi para o quarto. De tarde já estava deambulando e se alimentando. Recebeu alta hospitalar no dia seguinte. Após duas semanas, no retorno ambulatorial, foi checado resultado do anatomopatológico: colecistopatia crônica, sem sinais de malignidade.

Veja também:


Referências usadas

  • Ellison, EC, Zollinger, RM. Zollinger – Atlas de Cirurgia. Guanabara Koogan. 2017.
  • Soper NJ, Malladi P. Laparoscopic cholecystectomy. UpToDate. Published 2021. Accessed December 12, 2021.



João Elias

João Elias

Médico pela Universidade Federal de Goiás. Cirurgião pelo Hospital Alberto Rassi. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer Araújo Jorge. Ilustrador Médico com foco em Anatomia e Cirurgia. Fundador e mantenedor do Café Cirúrgico.

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