PATCH-Trauma: Ácido Tranexâmico aumenta sobrevida funcional?

O Ácido Tranexamico aumenta sobrevida com boa funcionalidade após 6 meses? O que o estudo PATCH-Trauma tem a nos dizer?

Vamos falar sobre o estudo PATCH-Trauma! O Ácido Tranexâmico é administrado nos pacientes com risco de sangramento após traumas graves. A lógica encontra-se no combate à fibrinólise e consequente redução da temida tríade letal (hipotermia, acidose metabólica e coagulopatia). Já falamos sobre o ácido tranexâmico nesse texto: Como usar o Ácido Tranexâmico (Transamin) no Trauma?



Os estudos CRASH-2 e CRASH-3 comprovaram a eficiência da droga em reduzir a mortalidade em 28 dias de pacientes com suspeita de sangramento e de pacientes com trauma cerebral, respectivamente. Entretanto, esses estudos não avaliaram a aplicação pré-hospitalar da droga e nem os desfechos a longo prazo dos casos avaliados.

PATCH-Trauma, Ácido Tranexamico

Estudo PATCH-Trauma

Recentemente, foi publicado o estudo PATCH-Trauma (Pre-hospital Antifibrinolytics for Traumatic Coagulopathy and Hemorrhage). Trata-se de um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, controlado por placebo.

O estudo avaliou um total de 1307 pacientes. De um lado, 661 pacientes receberam 1g de ácido tranexâmico no pré-hospitalar, seguido de 1g em 8h após admissão hospitalar. No outro braço, 646 pacientes receberam placebo no lugar da droga.

Desfecho primário: Funcionalidade após 6 meses

Após 6 meses de seguimento, foi aplicada a ferramenta Glasgow Outcome Scale – Extended (GOS-E) para avaliar a funcionalidade dos pacientes.

Resultado: 53,7% dos pacientes que usaram ácido tranexâmico e 53,5% dos pacientes que usaram placebo apresentaram resultados funcionais favoráveis, sem diferença significativa.

Ou seja, pacientes que usaram placebo e que usaram o ácido tranexâmico apresentaram características funcionais semelhantes após 6 meses.

Desfecho secundário: Morte em 24 horas, 28 dias e 6 meses

  • Mortalidade em 24 horas: 9,7% no grupo que usou ácido tranexâmico e 14,1% no grupo placebo (Risco Relativo de 0,69; IC 95%, 0,51 a 0,94). Com significância estatística.
  • Mortalidade em 28 dias: 17,3% no grupo que usou ácido tranexâmico e 21,8% no grupo placebo (Risco Relativo de 0,79; IC 95%, 0,63 a 0,99). Com significância estatística.
  • Mortalidade em 6 meses: 19% no grupo que usou ácido tranexâmico e 22,9% no grupo placebo (Risco Relativo de 0,83; IC 95%, 0,67 a 1,03). Sem significância estatística.

Ou seja, assim como no CRASH-2, o ácido tranexâmico mantêm certo benefício na mortalidade precoce, quando comparado ao placebo. Mas tal benefício não foi significativo quando olhamos para a mortalidade após 6 meses.

Conclusão do estudo PATCH-Trauma

O estudo então conclui que:

Entre os adultos que estavam em risco para coagulopatia induzida por trauma e estavam recebendo tratamento em Serviços de Trauma (1 g de ácido tranexâmico intravenoso iniciado no ambiente pré-hospitalar seguido por 1 g de ácido tranexâmico por um período de 8 horas no hospital) pareceu estar associado a menor mortalidade precoce. Entretanto, em 6 meses, não resultou em uma porcentagem maior de pacientes vivos com desfechos funcionais favoráveis maiores, quando comparados ao placebo.

The PATCH-Trauma Investigators and the ANZICS Clinical Trials Group

Veja o artigo original!

The PATCH-Trauma Investigators and the ANZICS Clinical Trials Group. Prehospital tranexamic acid for severe trauma. N Engl J Med. Published online June 14, 2023:NEJMoa2215457.



João Elias

João Elias

Médico pela Universidade Federal de Goiás. Cirurgião pelo Hospital Alberto Rassi. Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer Araújo Jorge. Ilustrador Médico com foco em Anatomia e Cirurgia. Fundador e mantenedor do Café Cirúrgico.

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